Número de vagas com carteira permanece em patamar recorde, e número pessoas empregadas como doméstica recua. Entre informais, cresce o trabalho autônomo

O desemprego no Brasil ficou em 5,6% no trimestre encerrado em agosto, mantendo-se no nível mais baixo da série histórica iniciada em 2012, que já havia sido alcançado em julho. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada pelo IBGE nesta terça-feira.

O resultado veio em linha com o esperado por analistas de mercado, que projetavam taxa de 5,6%, segundo mediana das projeções reunidas pela Bloomberg. Nos três meses anteriores, encerrados em maio, que servem de base de comparação para o resultado de hoje, a desocupação estava em 6,2%. Já no trimestre encerrado em agosto no ano passado, a taxa era de 6,6%.

A pesquisa mostra que havia 6,1 milhões de pessoas desocupadas no país no mês passado, o menor número da série, com menos 605 mil pessoas desempregadas na comparação com o trimestre até maio.

William Kratochwill, analista da pesquisa, acredita que a estabilidade é algo recorrente em trimestres de meio de ano, momento de transição entre o período de demissões de temporários contratados para as festas do final do ano anterior e as novas contratações para este ano.

— Pode se dizer que o mercado está acomodado, em um momento de calmaria, se preparando para tomar as decisões para o segundo semestre, quando começam as novas contratações. A Pnad vem mostrando que o mercado se mostra aquecido, resistente a taxa de juros alta. É um momento em que ele está favorável ao trabalhador. Pela ótica do trabalhador, uma taxa de desocupação não aumentar é sempre um bom sinal — ressaltou.

Com um mercado de trabalho apresentando resultados melhores do que antes se previa, economistas divergem sobre o que pode vir pela frente. Enquanto alguns acreditam que ele continuará forte ao longo de 2025, há aqueles que já preveem maiores impactos dos juros em patamares elevados, que podem desacelerar a criação de vagas.

Estabilidade à vista

Economistas acreditam que, embora o resultado de agosto não tenha vindo com mais quedas, ele continua reforçando o cenário de mercado de trabalho bastante aquecido e favorável ao trabalhador, com uma geração de vagas muito positivas no ano.

No entanto, a atividade econômica em ritmo mais fraco, com comércio e indústria perdendo o fôlego, assim como dados do próprio Caged, há a expectativa de o mercado de trabalho não deve ter mais espaço para quedas tão expressivas.

— Quando a gente olha só para a PNAD, não dá para confirmar que a partir de agora vai ter uma desaceleração, porque a gente ainda está mantendo uma taxa de desemprego num patamar muito baixo, então não dá para garantir que já é um ponto de inflexão. Mas eu acho que agora começa a estabilizar. E minha expectativa é que se isso se mantenha nos próximos meses, a gente deve começar a observar um ritmo um pouco mais fraco do que a gente veio observando no final do ano passado e nessa primeira metade do ano — projeta Rodolpho Tobler, economista do FGV Ibre.

Diante disso, para o final do ano Tobler espera um patamar parecido com o atual, entre 5,5% e 6%. Já Luis Otávio Leal, economista da G5 Partners, tem uma visão mais otimista. Ele acredita que, com o movimento sazonal de aquecimento dos empregos quarto trimestre, quando há a contratação de temporários para as festas de fim de ano, ainda há espaço para um desemprego próximo de 5,3%.

Ainda assim, Leal já vê sinais de que o mercado de trabalho por ter chegado nos seus níveis máximos de aquecimento.

— Dizer que ele está perdendo fôlego é muito forte, mas talvez já tendo encontrado o seu patamar mínimo (de desemprego). Pode ser que a gente fique mais ou menos estável nesse patamar durante algum tempo, pode ser que a gente já comece a ver uma piora, mas os dados, tanto a PNAD de hoje quanto a Caged de ontem, mostram alguns sinais de desaceleração no mercado de trabalho. Ainda é muito cedo para dizer que é uma piora, mas digamos que ele parou de melhorar.

Para o ano que vem, embora a pressão dos juros e o cenário econômico perdendo o fôlego indiquem que uma desaceleração pode estar por vir, Leal menciona incentivos como o crédito consignado privado e a extensão da isenção do imposto de renda para quem ganha até 5 mil reais, que podem impulsionar o consumo e, consequentemente, o mercado de trabalho.

Por enquanto, os economistas ainda não mudam as expectativas para o primeiro corte de juros, previsto para o início do ano que vem. Mas, segundo Leal, se no próximo resultado se confirmar a desaceleração, podem já começar a adiantar as previsões de corte.

Carteira assinada em nível recorde

O número de pessoas ocupadas chegou a 102,4 milhões, com alta em relação ao trimestre até maio e frente ao mesmo período de 2024. Essa alta foi puxada pelos empregos no setor privado, sobretudo aqueles com carteira assinada, que se mantiveram no nível recorde de 39,1 milhões já alcançado no trimestre encerrado em julho.

“O mercado de trabalho aquecido proporciona uma alteração do perfil das contratações, pois com menor disponibilidade relativa de mão de obra, as contratações somente acontecem com mais benefícios para os trabalhadores, como a carteira assinada por exemplo”, explica William.

Serviços domésticos foi a única categoria analisada pelo IBGE cujo número de vagas recuou tanto na comparação com o trimestre imediatamente anterior como com igual período do ano passado. Em relação a maio, por exemplo, houve queda de 3% no número de pessoas ocupadas – ou menos 174 mil trabalhando em casas de família.

“Muitas vezes, em momentos mais difíceis da economia, as pessoas migram para os serviços domésticos. O que podemos estar presenciando é o movimento contrário, em que os trabalhadores identificam melhores oportunidades de trabalho, com melhores condições e rendimentos, e deixam os serviços domésticos”, avalia William.

Aumento de trabalhadores por conta própria

Entre os trabalhadores informais, apenas os que trabalham por conta própria sem CNPJ apresentaram alta. Eles somaram 19,1 milhões de pessoas em agosto, com alta de 1,9% em relação ao trimestre até maio e de 2,9% frente ao mesmo período de 2024.

“Isso é um sinal de que as pessoas estão apostando no trabalho autônomo, são trabalhadores com menor de escolaridade, geralmente nas atividades de comércio e alimentação. Uma parcela de desalentados pode ter migrado, em parte, para a informalidade”, analisa William.

Renda estável em R$ 3.488

O rendimento médio real habitual chegou a R$ 3.488 no trimestre até agosto, considerado estável frente ao trimestre até maio, segundo o IBGE. Na comparação com igual trimestre de 2024, houve alta de 3,3%.

Com isso, a massa de rendimento médio real habitual chegou a R$ 352,6 bilhões de reais, avanço de 1,4% frente ao trimestre até maio e de 5,4% frente ao mesmo trimestre de 2024.

Fonte: Jornal O Globo
01 de outubro 2025