Os movimentos nos preços conduziram o Banco Central (BC) a efetuar o quarto corte consecutivo na taxa de juros. Unanimemente, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa Selic, que é a taxa básica da economia, em 0,5 ponto percentual, fixando-a em 11,75% ao ano. A decisão estava em consonância com as expectativas dos analistas financeiros.

Em comunicado, o Copom esclareceu que planeja continuar implementando novos cortes de 0,5 ponto nas próximas reuniões, embora não tenha fornecido detalhes sobre quando cessará a redução da taxa Selic. Conforme indicado pelo BC, esse momento dependerá do comportamento da inflação ao longo do primeiro semestre de 2024.

“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do comitê, unanimemente, preveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário. O comitê enfatiza que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária”, destacou o Copom.

A taxa agora alcança o menor nível desde maio do ano anterior, quando também estava em 11,75% ao ano. Entre março de 2021 e agosto de 2022, o Copom elevou a Selic em 12 incrementos consecutivos, durante um ciclo de aperto monetário iniciado em meio à elevação dos preços de alimentos, energia e combustíveis. Por um período de um ano, de agosto do ano passado a agosto deste ano, a taxa permaneceu inalterada em 13,75% ao ano por sete reuniões consecutivas.

Antes do início do ciclo de alta, a Selic havia sido reduzida para 2% ao ano, atingindo o nível mais baixo desde o início da série histórica em 1986. Motivado pela contração econômica decorrente da pandemia de covid-19, o Banco Central reduziu a taxa para estimular a produção e o consumo, mantendo-a no menor patamar da história de agosto de 2020 a março de 2021.

Inflação

A taxa Selic representa o principal instrumento utilizado pelo Banco Central para controlar a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em novembro, esse indicador registrou um aumento de 0,28%, acumulando uma variação de 4,68% nos últimos 12 meses. Após uma sequência de reduções no final do primeiro semestre, a inflação retomou a trajetória de alta na segunda metade do ano, um movimento, no entanto, previsto pelos economistas.

No ano anterior, o IPCA encerrou acima do limite máximo da meta de inflação. Para 2023, o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabeleceu uma meta de inflação de 3,25%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. Dessa forma, o IPCA não poderia ultrapassar 4,75% nem ficar abaixo de 1,75% neste ano.

No Relatório de Inflação, divulgado no final de setembro pelo Banco Central, a instituição manteve a projeção de que o IPCA encerraria 2023 em 5% no cenário base. Contudo, essa estimativa pode ser revisada para baixo na próxima versão do relatório, que será divulgada no final de dezembro.

As previsões do mercado são mais otimistas em comparação com as projeções oficiais. Conforme indicado pelo boletim Focus, uma pesquisa semanal realizada com instituições financeiras e divulgada pelo Banco Central, a expectativa é que a inflação oficial encerre o ano em 4,51%, abaixo, portanto, do teto da meta. Há um mês, as estimativas do mercado estavam em 4,59%.

Crédito mais barato

A diminuição da taxa Selic desempenha um papel crucial no estímulo à economia. Isso se dá pelo fato de que juros mais baixos tornam o crédito mais acessível, fomentando a produção e o consumo. No entanto, é importante notar que taxas mais baixas podem complicar o controle da inflação. No mais recente Relatório de Inflação, o Banco Central ajustou sua projeção de crescimento para a economia em 2023, elevando-a para 2,9%.

Essa expectativa de crescimento é corroborada pelo mercado, especialmente após a divulgação de que o Produto Interno Bruto (PIB), a soma das riquezas produzidas, apresentou um aumento de 0,1% no terceiro trimestre, surpreendendo as expectativas de uma possível queda. De acordo com a última edição do boletim Focus, os analistas econômicos preveem uma expansão de 2,92% do PIB em 2023.

A taxa básica de juros desempenha um papel fundamental nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve como referência para as demais taxas de juros na economia. Ao aumentá-la, o Banco Central busca conter o excesso de demanda que pressiona os preços, uma vez que juros mais elevados encarecem o crédito e estimulam a poupança.

Por outro lado, ao reduzir os juros básicos, o Comitê de Política Monetária (Copom) busca tornar o crédito mais acessível, incentivando a produção e o consumo. Entretanto, essa medida enfraquece o controle da inflação. Para efetuar cortes na Selic, a autoridade monetária precisa ter a certeza de que os preços estão sob controle e não apresentam risco de elevação.

Data: 14/12/23
Fonte: Jornal Contábil