Como as 2.750 toneladas de nitrato de amônio que segundo o governo libanês podem ter causado a explosão no Líbano nesta semana chegaram a Beirute?

Esta é a pergunta que muitos vêm fazendo desde que o presidente do Líbano, Michel Aoun, disse que o nitrato de amônio armazenado no porto da capital há seis anos é o responsável pela explosão que deixou ao menos 137 mortos e mais de 5 mil feridos.

Todos os olhares se voltaram para um evento que ocorreu em 2013, quando um barco de um armador russo, com bandeira da Moldávia, fez uma parada de emergência no porto de Beirute devido a problemas técnicos.

O governo não disse que essa é a origem do nitrato de amônio da explosão, mas o navio carregava justamente a quantidade de 2.750 toneladas que foram apreendidas pelas autoridades libanesas e armazenadas no local.

O nitrato de amônio é um composto que pode ser usado como fertilizante, mas também na fabricação de explosivos. Se não estiver armazenado nas condições corretas, como parece ter sido o caso da capital libanesa, pode ser muito perigoso.

Apesar de o diretor geral da alfândega, Badri Daher, e o gerente do porto, Hassan Koraytem, ​​alertarem repetidamente sobre o perigo de se manter o nitrato de amônio sem as medidas de segurança exigidas, seus alertas foram ignorados.

A principal pergunta da investigação é como e por que o nitrato de amônio foi negligenciado por seis anos. Enquanto as autoridades não têm explicação para isso, a resposta sobre de onde o composto veio está ficando mais clara.

Como o nitrato de amônio acabou no porto de Beirute

As 2.750 toneladas de nitrato de amônio que o governo libanês investiga como sendo a causa da explosão são a mesma quantidade que as autoridades apreenderam de um navio cargueiro chamado MV Rhosus em 2013.

O MV Rhosus tinha a bandeira da Moldávia e transportava nitrato de amônio da Geórgia para Moçambique, mas sofreu problemas técnicos durante a travessia e teve que parar em Beirute.

Uma vez lá, o navio foi inspecionado pelas autoridades libanesas e proibido de retomar a rota por não pagar as taxas portuárias, segundo relatório de 2015 da Shiparrested, rede de advogados que trata de questões jurídicas de navios cargueiros.

O ex-capitão desse navio, o russo Boris Prokoshev, foi entrevistado esta semana pela Rádio Liberdade, da Sibéria, na Rússia.

Segundo Prokoshev, o navio pertencia ao cidadão russo Igor Grechushkin, que ignorou o assunto e não respondeu aos apelos da tripulação e dos advogados para pagar as taxas e continuar a viagem.

Parte da tripulação do navio foi libertada, mas o capitão Prokoshev, outro cidadão russo e três ucranianos foram detidos.

Posteriormente, a carga de nitrato de amônio foi apreendida pelas autoridades e transferida para um contêiner no porto por motivos de segurança. A Shiparrested, que providenciou a liberação dos quatro tripulantes retidos, publicou que “o barco havia sido abandonado por seus proprietários”.

“Os esforços para contatar os proprietários e arrendatários do navio, bem como os compradores da mercadoria para pagar as taxas, não tiveram sucesso”, relataram os advogados.

Prokoshev sustenta que Grechushkin, o dono do navio, ainda deve a ele e à tripulação dinheiro pelos serviços prestados. No entanto, suas exigências não foram atendidas porque ele não mora mais na Rússia.

O ex-capitão também disse em entrevista à Rádio Liberdade que o navio tinha muitos problemas por falta de manutenção e que afundou após ser liberado.

A BBC tentou entrar em contato com Grechushkin, mas não obteve resposta.

Por que o material explosivo continuou no porto de Beirute?

A resposta a essa pergunta é a chave para descobrir quem é responsável pela negligência que parece ter causado o acidente na capital do Líbano.

De acordo com Nidale Abou Mrad, jornalista da BBC Árabe, muitos libaneses culpam a corrupção e a falta de liderança do país, um problema que denunciam há anos.

O presidente Aoun prometeu que uma investigação transparente ocorreria.

O gerente geral do porto, Hassan Koraytem, ​​e o diretor da alfândega libanesa, Badri Daher, insistem que alertaram sobre o perigo do nitrato de amônio armazenado, mas foram constantemente ignorados.

“Exigimos que [o material] fosse exportado, mas [isso] não aconteceu. Vamos deixar os especialistas e os envolvidos [na investigação] ​​determinarem o porquê”, disse Daher à emissora libanesa LBCI.

Segundo documentos oficiais, os funcionários da alfândega enviaram cartas à Justiça em busca de uma solução pelo menos seis vezes entre 2014 e 2017.

O governo libanês anunciou quarta-feira (5) que os responsáveis ​​pelo monitoramento do nitrato de amônio no porto foram colocados em prisão domiciliar durante a investigação.

E o Conselho Superior de Defesa do Líbano prometeu que os responsáveis ​​enfrentarão a “punição máxima possível”.

Veja o passo a passo de como foi a explosão.

fonte: https://g1.globo.com/