Número foi puxado pelo segmento de serviços técnico-profissionais, com aumentos de receita de empresas de agenciamento de espaços de publicidade
Os serviços cresceram 0,1% em maio, após alta de 0,2% em abril deste ano, chegando ao quarto resultado positivo consecutivo no setor. O número veio levemente abaixo do esperado pelos analistas de mercado, que projetavam 0,2%. Para economistas, a tendência é de desaceleração, mas o setor ainda mostra resiliência, mesmo diante do cenário macroeconômico adverso. Os dados são da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira.
- Nos últimos 12 meses, setor acumulou alta de 3%;
- Em relação a maio de 2024, o crescimento foi de 3,6%;
- No acumulado no ano, a expansão foi de 2,5%.
Na comparação com maio de 2024, o volume de serviços avançou 3,6%, chegando a 14ª taxa positiva consecutiva. De acordo com Rodrigo Lobo, analista da pesquisa, os quatro meses de crescimento compensam a queda que o setor apresentou em janeiro e colocam os serviços de volta ao patamar recorde observado em outubro de 2024.
— O setor de serviços perdeu um pouco de fôlego, mas sempre se situou muito próximo de um patamar mais elevado — disse ele.
Ainda assim, economistas já vem observando uma desaceleração no setor, sem alcançar mais números tão expressivos como os observados no ano passado, embora alguns setores, mais relacionados à tecnologia, venham se mantendo robustos.
Em maio, a principal atividade responsável pela variação positiva no mês foi a de serviços profissionais, administrativos e complementares, que cresceu 0,9% e que já acumulara ganho de 2,9% nos últimos 4 meses.
O segmento que se destacou dentro da atividade foi o de serviços técnico-profissionais, com aumento de receita das empresas de agenciamento de espaços de publicidade, serviços de engenharia, e intermediação de negócios por meio de aplicativos ou plataformas de e-commerce.
Três dos cinco setores avançaram na passagem de abril para maio. Entre os que cresceram também estão outros serviços (1,5%) e serviços de informação e comunicação (0,4%).
Por outro lado, o grupo de transportes (-0,3%) e os serviços prestados às famílias (-0,6%) registraram quedas no mês.
— O recuo no setor de transportes vem da logística de transporte e do transporte aquaviário, sobretudo o marítimo de longo curso e também o de cabotagem. Mas, por outro lado, a gente tem o transporte aéreo mostrando um crescimento importante nesse mês, em função da queda dos preços das passagens aéreas em maio, mas não o suficiente para trazer o setor como um todo para o campo positivo — explica Lobo.
Resultado heterogêneo
Economistas acreditam que, embora não haja piora no resultado dos serviços, que continua resiliente, o resultado já indica certa perda de ritmo. Para Stéfano Pacini, economista do FGV Ibre, os serviços vêm mostrando números heterogêneos, com atividades em queda, enquanto outras seguem sustentando o setor.
— Tem alguns segmentos se sustentando e outros piorando pontualmente, por questões macroeconômicas também. A primeira delas é o mercado de trabalho ainda aquecido, que ajuda a segurar alguns setores de serviços. Por outro lado, a gente tem uma taxa de juros mais alta, que mexe muito com a confiança do consumidor, que pode afetar o serviço prestado às famílias. O nível de atividade pode ser reduzido, para segurar também pressões inflacionárias.
Como mencionado pelo economista, os serviços prestados às famílias vem de uma segunda queda consecutiva, além de uma queda forte em janeiro, o que pode ser efeito do aumento nos juros.
Em contraponto, além do mercado de trabalho, a análise da equipe econômica da Genial Investimentos menciona também medidas de estímulo à demanda aprovadas recentemente, assim como a valorização real do salário-mínimo e os efeitos positivos da supersafra de grãos, que beneficiam a atividade.
“Esses fatores contrabalançam, ao menos em parte, o aperto nas condições de crédito, a inflação ainda elevada e o aumento das incertezas econômicas e devem contribuir para que o setor siga resiliente nos próximos trimestres”, diz o relatório.
Serviços de tecnologia sustentam setor
Como explica Pacini, a resiliência dos serviços é puxada por segmentos específicos, como serviços profissionais e serviços de informação e comunicação, que seguem melhorando na variação mensal.
— Serviços profissionais é um segmento mais pesado da pesquisa, e serviços de informação e comunicação é uma atividade que tem bastante margem para crescimento, visto que a gente tem sempre novas demandas sobre soluções de tecnologia, soluções de informação. É um setor que teve um boom pós pandemia, com o trabalho remoto, e continua em um patamar bem elevado, crescendo independente do ciclo econômico, sempre numa tendência de alta — explica Pacini.
Ele menciona ainda as crescentes demandas voltadas para a inteligência artificial.
Perda de ritmo para o segundo semestre
Para os próximos meses, sobretudo no segundo semestre, a perspectiva é de desaceleração da economia. No entanto, economistas destacam que o processo será bem gradual, mesmo diante de uma política monetária significativamente contracionista.
Estímulos promovidos pelo governo, como o aumento de gastos, a liberação de recursos do FGTS para os trabalhadores e o incentivo à concessão de crédito, são considerados fatores que impulsionam uma expansão acima de 2% dos serviços ao final de 2025, na visão de Cláudia Moreno, economista do C6 Bank. Ainda assim, a expectativa é de que os juros que mantenham no atual patamar.
“Os números do setor de serviços não alteram nossa projeção de que o Comitê de Política Monetária (Copom) deve manter os juros estáveis nos próximos meses. As últimas comunicações do Banco Central reforçam nossa expectativa de que a Selic permaneça em patamar elevado por bastante tempo, mantendo-se em 15% até o final de 2026”, projeta a economista, em comentário.
Fonte: Jornal O Globo
11 de julho 2025