IPCA desacelerou em abril e avançou apenas 0,14%, a menor taxa para o mês desde o início do Plano Real; desconto na conta de luz deu alívio ao índice de preços.

A inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), perdeu força de março para abril, passando de 0,25% para 0,14%, a menor taxa para o mês desde o início do Plano Real. Os números foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (10). Em abril de 2016, o IPCA havia ficado em 0,61%.

No acumulado do ano, o indicador está em 1,10%, abaixo dos 3,25% registrados entre janeiro e abril de 2016 e também no menor nível para o período desde o Plano Real.

Nos últimos 12 meses, o índice ficou em 4,08%, abaixo dos 4,57% apurados em março. É a menor taxa desde julho de 2007, quando estava em 3,74%. Com isso, a inflação ficou abaixo da meta definida pelo Banco Central para o ano, de 4,5%.

“De fato, a trajetória da inflação está desacelerando, mas abril teve um fator pontual que não vai se repetir no próximo mês: o desconto nas contas de energia”, alerta a coordenadora de índice de preços do IBGE, Eulina Nunes.

Principais impactos

A queda na taxa mensal do IPCA de 0,25% em março para 0,14% em abril foi impactada principalmente pelas contas de energia elétrica, que ficaram 6,39% mais baratas, e pelos combustíveis, cujos preços caíram 1,95%, segundo o IBGE.

A redução nos preços da energia foi influenciada por descontos concedidos aos consumidores pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para compensar uma cobrança indevida feita em 2016, referente a um repasse para a usina nuclear de Angra III, que não entrou ainda em operação. A medida ajudou a equilibrar os efeitos da substituição da bandeira amarela pela vermelha nas contas de luz, em 1º de abril.

“É uma clara desaceleração dos preços da economia em função de fatores como o consumo retraído por conta do alto desemprego, safra de alimentos muito boa e, no mês de abril especificamente, graças ao desconto dos preços de energia elétrica que têm um grande peso na conta”, acrescentou Eulina Nunes.
A baixa nos preços da energia elétrica ajudou as depesas com habitação a caírem 1,09% em abril, a contração mais expressiva registrada entre os grupos de impacto, compensando até mesmo o aumento de 2,63% nos preços do gás de cozinha.

Também contribuiu para a desacelaração da inflação o segmento de transportes, que sofreu queda de 0,06% no IPCA, influenciada pela baixa de 1,95% nos preços dos combustíveis (o litro da gasolina ficou 1,75% mais barato e o do etanol, 3,33%). Mas apesar do recuo, o grupo foi pressionado pelo aumento de 15,48% no preço das passagens aéreas e de 0,69% dos ônibus urbanos.
Por outro lado, o grupo de saúde e cuidados pessoais apresentou a maior alta no mês passado, de 1%. Pesaram principalmente os preços dos remédios, que subiram 1,95% no mês, refletindo o reajuste anual válido a partir de 31 de março (de 1,36% a 4,76%, dependendo do tipo do remédio).
O nicho de alimentação e bebidas também registrou aumento de 0,58%, puxado pelo avanço nos preços de produtos como o tomate (29,02%) e a abatata-inglesa (20,81%).
“A expectativa é de que a safra de grãos tenha aumento de 230 milhões de grãos [neste ano] em relação a 2016, mas em abril teve entresafra de produtos como tomate e batata para que a oferta diminuísse. No caso do tomate, a safra neste ano foi enorme e isso levou os produtores a reclamarem de prejuízos e eles fizeram com que a safra diminuísse um pouco. Teve destruição para elevar o preço”, afirmou a coordenadora do IBGE.
Porém, alguns produtos importantes na cesta dos brasileiros ficaram mais baratos, como o óleo de soja (-4,17%) e o arroz (-1,69%).

Perspectivas para maio

Em maio, segundo o IBGE, o IPCA deve ser novamente impactado pelos preços da energia elétrica, que retornam aos patamares convencionais. Além disso, de acordo com Eulina Nunes, “podem ter algum impacto na frente” os aumentos em 31 de março no preço dos remédios, entre 1,36% e 4,76%.

Por região

Foi registrada deflação em quatro das 13 regiões analisadas pelo IBGE: Salvador (-0,22%), Campo Grande (0,13%), Belo Horizonte (-0,08%) e Curitiba (-0,05%). Na outra ponta, a área de Brasília apresentou a maior alta generalizada de preços (0,54%), seguida por Recife (0,49%), Rio de Janeiro (0,38%) e Porto Alegre (0,22%).
Itens que mais subiram de preço em abril

Tomate: 29,02%
Batata-inglesa: 20,81%
Cebola: 6,03%
Alho: 4,83%
Ovos: 4,03%
Café moído: 2,65%
Açaí: 2,45%
Suco de frutas: 1,54%
Frango em pedaços: 1,30%
Pão de forma: 1,26%
Leite Longa Vida: 1,25%
Pescado: 1,10%
Café da manhã: 1,08%
Queijo: 0,97%
Doces: 0,53%
Chocolate e achocolatado em pó: 0,88%
Cerveja: 0,87%
Hortaliças: 0,79%
Macarrão: 0,76%
Refeição fora de casa: 0,41%
Itens com maiores quedas nos preços em abril
Feijão-preto: -8,29%
Óleo de soja: -,4,17%
Chocolate em barra e bombom: -2,92%
Açúcar cristal: -2,73%
Azeite: -2,49%
Arroz: -1,69%
Feijão-carioca: -1,64%
Leite em pó: -0,84%
Feijão-fradinho: -0,82%
Frutas: -0,79%
Cenoura: -0,71%
Frango inteiro: -0,64%
Sorvete: -0,59%

INPC

O IBGE também divulgou nesta quarta o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). O índice passou de 0,32% em março para 0,08% em abril. No acumulado dos últimos 12 meses, o índice desacelerou para 3,99%, abaixo dos 4,57% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em abril de 2016, o INPC havia ficado em 0,64%.

Inflação da construção civil

O instituto compartilhou ainda o Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi), que variou 0,15% em abril, ante 0,46% em março. Nos últimos 12 meses, a taxa ficou em 5,07%, abaixo dos 5,39% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em abril de 2016, o índice foi 0,46%.